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A urgência de políticas de incentivo à divulgação de ciência no Brasil

Há 37 anos, 70% da população brasileira já demonstrava, através de pesquisa, que se interessa por temas ligados a C&T. Mas profissionais de imprensa e divulgadores científicos ainda carecem de qualificação na área

Por Wagner Ferreira* – Partindo dos pressupostos de que, 70% da população urbana brasileira têm interesse em ciência e tecnologia, e de o financiamento da maioria das pesquisas advir de recursos do governo, ou seja, dinheiro público, é urgente a necessidade de políticas que incentivem a Divulgação Científica.

O abandono por parte dos órgãos governamentais, federais e estaduais é enorme e isso já é notado há 37 anos, sendo mais preciso, em 1987. A constatação veio por meio de uma pesquisa feita pelo Instituto Gallup, com o título: “O quê o brasileiro pensa da Ciência e Tecnologia?” Na ocasião se foi perguntado sobre o grau de interesse da população do Brasil por descobertas científicas. O resultado foi que, 71% das pessoas consultadas assumiram ter interesse, sendo que 31% responderam ter muito interesse, e 20% dos brasileiros adultos – aproximadamente 10 milhões de pessoas na época – estudam ou procuram conhecer melhor algum ramo da ciência.

Mais tarde, outra pesquisa feita pelo mesmo instituto colocou a seguinte questão: “Os órgãos de comunicação (Jornais, Rádios, TV) noticiam satisfatoriamente ou deveriam dar mais notícias sobre novas descobertas científicas tecnológicas?”. O resultado foi que, para 66% dos brasileiros, os órgãos de comunicação deveriam dar mais notícias sobre novas descobertas científicas e tecnológicas. Os que mais consideram insatisfatório esses noticiários são as pessoas de instrução superior, (71%) e as que têm interesse pela ciência (76%).

Esta segunda pesquisa tem quase 25 anos, e já refletia a demanda dessa parte significante da população por divulgação de ciência. Esse público não convive diariamente com pesquisas nas universidades, mas está ligado de alguma forma com ela e vem demonstrando interesse às novidades científicas e tecnológicas até os dias de hoje.

No Brasil, mesmo que em nível de região Sul e Sudeste, é possível obter especialização em Divulgação Científica. O Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), com sede na cidade de Campinas, São Paulo, dispõe de um curso de mestrado em Divulgação Científica e Cultural – MDCC, onde é proposto para os estudantes o desenvolvimento da compreensão da função social da ciência e da cultura do país, através de uma divulgação mais eficiente de sua produção.

No Bahia, o primeiro curso com duração de dois anos do Norte e Nordeste do país foi a Especialização em Jornalismo Científico e Tecnológico, realizado em 2010 na Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom, teve a coordenação da professora e jornalista Simone Bortoliero. Com a aprovação do edital, que possibilitou a realização do curso, o termo “Jornalismo Científico” ficou conhecido pela primeira vez no estado.

Em entrevista à edição de número 100 da revista ComCiência, o lingüista Carlos Vogt, afirma que há um conceito bastante difundido, que cabe à divulgação científica preencher uma lacuna de informação, esta que o leigo não tem em relação à ciência, isto é, que o leigo é, portanto, analfabeto cientificamente. “[…] Os norte-americanos chamam essa atividade de scientific literacy, que é alfabetização científica, isto é, tornar, portanto, o leigo informado das questões da ciência”.

Devido à falta de comprometimento por parte de políticos responsáveis diretamente por pastas ligadas à ciência e tecnologia, com a contribuição de diretores de institutos que fomentam ciência e tecnologia, Wilson Bueno diz: […] as políticas de incentivo à divulgação de ciência no Brasil ainda são tímidas, apesar de algumas iniciativas das Fundações de Amparo à Pesquisa, como as de São Paulo, Minas, Amazonas e Bahia, por exemplo. Dessa forma, a contribuição pode ser relevante, se mantida nesses casos, já que favorece o processo de alfabetização científica e de democratização do conhecimento ao estimular o desenvolvimento de projetos, a realização de pesquisas e a interação entre o meio acadêmico e profissional. Mas nem sempre estas iniciativas acabam tendo sequência devido a barreiras burocráticas advindas de ministros e diretores de institutos de pesquisas.

Wilson Bueno durante o Seminário de Jornalismo Científico realizado no ano de 2010, em Salvador (Foto: Wagner Ferreira)

Para a jornalista Isis Nóbile Diniz, especialista em Divulgação Científica pela Escola de Comunicação e Arte de São Paulo – ECA, é importante considerar que o país possui uma educação precária e pouco investimento até para as pesquisas em si – haja vista que a maior parte desse dinheiro é proveniente de instituições públicas, diferente do que acontecem em países como os Estados Unidos, por exemplo. Como consequência, dinheiro e tempo dedicados para a divulgação científica são escassos.

[…] “Acredito que as instituições como Fapesp e CNPq, há cerca de cinco anos, começaram a investir mais na divulgação científica em si. Tanto que a Fapesp reforçou sua revista – passando até a vendê-la em banca – e o CNPq oferecer bolsa para divulgadores – inclusive para pessoas que não são da área da Comunicação. Esse movimento está se fortalecendo há no máximo oito anos, e aumenta a cada ano que passa.”

Certamente, uma nova pesquisa nesses moldes trará um mapa mais vasto dos interessados por ciência e tecnologia no Brasil e servirá de base para a implantação de políticas públicas e privadas de incentivo à divulgação de ciência através dos meios de comunicação. Uma dessas ações, deve ser a capacitação de um dos principais elos de ligação entre o mundo rebuscado dos acadêmicos e a sociedade: o jornalista.

*Jornalista pós-graduado em Jornalismo Científico e Tecnológico pela Ufba

Publicado originalmente em Ciência e Cultura Ufba

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